DESCOBRIMENTO DO RIO SÃO FRANCISCO

21/06/2011 14:30

 

 

 

 

A Foz do Rio São Francisco foi encontrada pelos navegadores europeus André Gonçalves e Américo Vespúcio no dia 4 de outubro de 1501. Cumprindo uma tradição cristã, na época da descoberta do Brasil, o rio foi batizado com o nome do santo do dia. O rio foi naturalmente o caminho de acesso para ocupação dos 270 km entre a Foz e a Cachoeira, que recebeu o nome do primeiro europeu que chegou até ela - Paulo Afonso.

Por outros caminhos, o homem europeu chegou a outros trechos do São Francisco: quase cinqüenta anos após, em 29 de março de 1549, chegou ao Brasil a comitiva do primeiro governador geral - Tomé de Souza, e a partir desse ano iniciou-se a penetração dos desbravadores dos quais no Nordeste o mais importante foi Garcia D’Ávila, fundador da Casa de mesmo nome, e de cujo imóvel sede foram encontrados vestígios quando do início da construção do aproveitamento hidrelétrico de Sobradinho, na década de 70.

Garcia D’Ávila deslocou-se do litoral baiano até o Piauí, e entre esses dois pontos extremos ele chegou ao médio São Francisco, passando a praticar nas suas margens a pecuária extensiva.

O gado trazido nas caravelas era instalado em currais nos quais eram deixadas dez novilhas, um touro e um casal de escravos. Foi assim que surgiram as primeiras vilas nas margens do Rio São Francisco, e daí também se originou a denominação de Rio dos Currais, hoje substituída pelo apelido carinhoso dos barranqueiros - O Velho Chico.

Neste início do Século XXI, os 640.000 km² da bacia do Rio São Francisco abrigam 504 municípios e uma população de mais de treze milhões de brasileiros. Além do Velho Chico integram a bacia oitenta afluentes perenes e vinte e sete intermitentes.

 

REVITALIZAÇÃO E CONSERVAÇÃO

 

Mais de quatro séculos de exploração, em geral desordenada, da bacia do Velho Chico levaram os ambientalistas a considerá-lo atualmente um “rio doente”.

Para isto, contribuíram o desmatamento, a poluição e a alteração do regime hídrico natural, decorrente da construção de barragens.

O desmatamento indiscriminado realizado para obter a lenha que serviu como combustível e para “liberar” terras para agricultura e pecuária, provoca carreamento de terras férteis, assoreamento e regime torrencial nos períodos de alta pluviosidade.

A poluição das águas tem origem nos esgotos não tratados, resíduos industriais, mineração, adubos químicos e defensivos agrícolas.

Finalmente, as barragens alteraram o regime hídrico natural, e as necessidades de energia elétrica do Nordeste aumentaram as vazões mínimas naturais e reduziram os piques de cheias. Além disso as barragens provocam retenção de sedimentos no interior dos reservatórios.

Tudo isto despertou a consciência da necessidade de um intenso e efetivo programa de Revitalização e Conservação do Rio São Francisco, e o maior desafio deste programa de Revitalização e Conservação é, atingida a Revitalização, proporcionar o uso dos recursos naturais da bacia, de forma sustentável, proporcionando o desenvolvimento econômico e social dos seus habitantes, e de dezenas de milhões de nordestinos que se beneficiam da energia elétrica nela gerada. Simultaneamente deve ser garantida a disponibilidade dos recursos naturais da bacia, para beneficiarem as gerações futuras.

Não é possível buscar restaurar a bacia do Rio, para condições iguais àquelas existentes quando os colonizadores europeus encontraram pela primeira vez sua Foz, em 4 de outubro de 1501.

Como será a bacia do Velho Chico revitalizada e conservada daqui a duas gerações?

 

ECONOMIA DA BACIA HIDROGRÁFICA

Pela sua diversidade climática, extensão e características topográficas, a Bacia é dividida em quatro regiões: o Alto, Médio, Submédio e o Baixo São Francisco, nas quais podem ser caracterizadas três zonas biogeográficas distintas: a mata, a caatinga e os cerrados.

A exploração econômica da Bacia Hidrográfica do São Francisco começou no Século XVI com a plantação de cana-de-açúcar no Baixo São Francisco, a pecuária bovina no agreste e sertão e a extração mineral no Alto São Francisco.

No Século XIX, com a ocorrência de diversos fatores econômicos, tais como o desenvolvimento da produção cafeeira no sudeste, o esgotamento dos depósitos aluvionais de ouro, a queda do preço internacional do açúcar e o início das obras de infra-estrutura no litoral brasileiro, a economia da Bacia passou por uma fase de involução.

No início do Século XX, o Alto São Francisco procurou se integrar à economia do sudeste brasileiro, baseada na produção cafeeira e na industrialização ainda incipiente. As áreas do Médio e do Submédio São Francisco foram, então, fortemente afetadas, uma vez que ficaram isoladas, vivendo da agricultura de subsistência. Na região do Baixo São Francisco, procurou-se ampliar a área de produção de cana-de-açúcar.

A zona semi-árida, que, com o agreste, compreende 50% da área total da Bacia Hidrográfica do São Francisco, teve como principais atividades econômicas a pecuária, o algodão e as culturas de subsistência. A produção de algodão existiu até o final da década de 70 a meados dos anos 80 do século passado. Após esse período, as pequenas e médias cidades da Bacia começaram a receber contingentes populacionais sem qualificação profissional para atuarem nas fracas economias urbanas, que não têm, até hoje, infra-estrutura e atividades econômicas capazes de absorvê-los.

Os estudos para conhecimento da Bacia do São Francisco tiveram início no Brasil Império e prosseguiram até o presente, executados por várias entidades, representando hoje um enorme e importante cabedal de dados socio-econômicos e de informações técnicas e científicas sobre os seus recursos naturais.

Em 1945, o Governo Federal autorizou a criação da Companhia Hidro Elétrica do São Francisco - CHESF, para o aproveitamento do rio na geração de energia elétrica. Três anos depois foi criada a Comissão do Vale do São Francisco - CVSF, nos moldes da Tennessee Valley Authority - TVA nos Estados Unidos, destinada a promover a valorização econômica da Bacia do São Francisco.

A CHESF, aproveitando as excepcionais condições naturais proporcionadas pelo desnível de Paulo Afonso, construiu as Usinas de Paulo Afonso I, II e III. Em 1955 foram inauguradas as três primeiras unidades de Paulo Afonso I. Posteriormente a Comissão do Vale do São Francisco, CVSF, construiu em trecho mineiro do São Francisco, a Barragem de Três Marias cuja Usina foi inaugurada em 1961. A partir da década de 70, objetivando regularizar as vazões do São Francisco e aumentar a geração de energia elétrica, a CHESF construiu a Barragem e Hidrelétrica de Moxotó e, posteriormente, as Barragens e Hidrelétricas de Sobradinho, Paulo Afonso IV, Itaparica e Xingó.

Além dos benefícios gerados pela produção de energia elétrica na Bacia do São Francisco, a injeção de recursos na economia local durante a construção das usinas, proporcionou o surgimento e desenvolvimento de cidades na região dos aproveitamentos hidrelétricos, as quais têm desempenhado um papel de pólo regional, a exemplo da cidade de Paulo Afonso na Bahia.

Os anos 70 do século passado foram, também, de grandes mudanças no que tange ao aproveitamento agrícola das zonas dos cerrados da Bacia com a chegada de milhares de agricultores do sul do país, atraídos pela grande disponibilidade de terras, a preços baixos. Em especial, no Oeste baiano, a agricultura vem crescendo a taxas extremamente altas produzindo-se arroz, milho, soja, algodão e frutas, com o uso de tecnologias avançadas. Essa produção fez surgir agroindústrias na região. Tais fronteiras econômicas vêm se deslocando para o Médio São Francisco, inclusive com organização cooperativa, tornando a econômia mais dinâmica.

A agricultura irrigada teve um crescimento significativo a partir dos anos 80, em especial após a criação do Programa de Irrigação do Nordeste - PROINE. Na Bacia, estão identificados cerca de 3.000.000 ha potencialmente irrigáveis dos quais cerca de 800.000 ha já foram estudados, projetados ou estão em operação. De acordo com estudos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (1995),

 

Extensão do Rio São Francisco

2.863 Km

Vazão média de longo período na foz do Rio São Francisco

2.850 m3/s

Afluentes

80 rios perenes e 27 intermitentes

Área da bacia

640.000 km2

Número de municípios

504

População

acima de 13 milhões de habitantes

Estados integrantes da bacia

Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe, além do Distrito Federal

Regiões fisiográficas

Alto, Médio, Submédio e Baixo São Francisco

Cobertura vegetal predominante

Cerrados, Caatingas , Fragmentos de Florestas, Pequenas Matas de Serra, Mangues e Vegetação Litorânea.

Trechos navegáveis do Rio São Francisco

1.234 km entre o Alto (cidade de Pirapora) e Submédio (cidades de Petrolina e Juazeiro); 204 km no baixo São Francisco entre a cidade de Piranhas e a Foz.

Principais cidades da bacia

Região Metropolitana de Belo Horizonte, Montes Claros, Januária, Barreiras, Bom Jesus da Lapa, Petrolina, Juazeiro, Arapiraca, Penedo e Propriá.

Área irrigável da bacia

Cerca de 3 milhões de hectares dos quais 10% estão com projetos implantados Principais Atividades Econômicas

No Alto São Francisco: Industria, Mineração e Pecuária. No Médio: Agricultura, Pecuária e Industria. No Submédio: Agricultura, Pecuária, Agroindustria e Geração de Energia. No Baixo: Agricultura, Pecuária e Pesca.

Indice de Desenvolvimento Humano - IDH

Alto São Francisco (0,549 a 0,802); Médio (0,343 a 0,724); Submédio (0,434 a 0,664); Baixo (0,364 a 0,534).

Precipitação Média Anual em mm de chuvas

Mínimo de 350 milimetros em microrregiões do submédio e baixo, a um máximo de 2000 milimetros em microrregiões do Alto São Francisco.